O Estado de S. Paulo – 16/10/2011

FABIO GRANER, ADRIANA FERNANDES / BRASÍLIA – O Estado de S.Paulo

O governo terá de fazer um aumento “compensatório” do superávit primário ao longo dos próximos anos para contrabalançar a pressão de alta que as operações de crédito do Tesouro Nacional com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a política de aumento das reservas internacionais provocarão futuramente na dívida pública.

Estudo do consultor do Senado Josué Pelegrini mostra que a decisão do governo de formar esses ativos – o crédito que o Tesouro tem a receber do BNDES e dólares que compõem reservas externas -, embora inicialmente seja neutra para a dívida líquida do setor público (que computa dívidas e bens do governo), vai, no futuro, gerar pressão de alta no indicador que mede a saúde financeira do setor público.

Sem a compensação por meio do aumento da economia feita para o pagamento de juros (superávit primário), a tendência de queda verificada na dívida líquida nos últimos anos será interrompida por conta da “armadilha financeira” que se transformou a política do governo de empréstimos ao BNDES e de acumulação das reservas, avalia o consultor do Senado.

No estudo, Pelegrini mostra que o impacto na dívida líquida se dá porque, para aumentar esses ativos de baixa remuneração, o governo elevou significativamente sua dívida bruta – indicador que não considera os créditos a receber. Além de ter havido um grande distanciamento entre os dois tipos de dívida (bruta e líquida), há diferença significativa na remuneração que o governo recebe e na que ele paga.

A diferença de juros nos dois lados do balanço levará a uma pressão maior no chamado déficit nominal, que é o resultado das receitas e despesas do governo, quando se consideram também os juros da dívida pública, elevando no futuro a dívida líquida e deteriorando os indicadores fiscais do País.

Em entrevista ao Estado, Pelegrini defendeu que a maneira mais apropriada para que o governo evite esse quadro é calibrar o superávit primário em um nível mais alto. Ele não definiu um número, mas considerou que essa alternativa é melhor do que simplesmente apostar que o crescimento anual da economia brasileira será, na média, de 5% nos próximos anos ou que a taxa de juros.

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/10/16/efeito-do-credito-na-divida-publica-preocupa