Os EUA Podem Peitar os BRICS?

Por Petronio Portella Filho*

O gráfico lista os países com os dez maiores PIB de 2024 pelo critério da PPP (paridade de poder de compra). O PPP é um critério mais sofisticado, mais justo e mais fiel à capacidade econômica real de um país. Os dados são do FMI e o gráfico foi obtido na Wikipedia.

O PIB da China é de 37,07 trilhões, 21% acima do PIB americano, que é de 29,17 trilhões. Entre os 4 países com maior PIB , 3 são dos BRICS. Entre os 8 maiores 5 são membros plenos dos BRICS.

A força econômica dos BRICS tende a aumentar. Vários países querem entrar no grupo. Além disso, a taxa de crescimento de longo prazo dos BRICS é estimada ente 6% e 8%, mais do triplo da taxa dos EUA e principais aliados.

O setor mais importante do PIB é a indústria. A China tem 27% da Produção Industrial Mundial, os EUA, 16%. A China responde por 14,2% das Exportações do mundo; os EUA 8,5%. A China representa 24,8% do comércio internacional; os EUA, 21,7%.

Os EUA lideram o mundo em estatísticas pouco invejáveis. Eles têm a maior dívida externa, o maior déficit na balança comercial, o maior gasto militar e a maior população carcerária do planeta.

Eles têm também a moeda mais forte, o dólar, mas ela não inspira tanta confiança quanto no passado. Grande parte da culpa é dos presidentes americanos, que passaram a usar o dólar como arma de guerra. Entre 15 e 20 países já sofreram sanções comerciais e financeiras ilegais do tio Sam.

Os EUA têm condições econômicas de peitar o mundo? Em 1945, sem dúvida; hoje, nem de longe. Infelizmente o Presidente Donald Trump acredita que sim. Trump é muito menos perigoso e insano que seu antecessor Joe Biden, que fez o inimaginável para iniciar guerra nuclear contra Rússia e China. Mas as ideias econômicas do Trump são ingênuas.

Trump quer “Fazer a América Grande Novamente” fazendo bullying contra aliados e adversários. Ele ameaça iniciar guerra tarifária contra os BRICS, países vizinhos, a América Latina e a União Europeia. Será que alguém da sua equipe vai ter coragem de lhe dizer a verdade?

*Petronio Portella Filho é Consultor Legislativo do Senado Federal (aposentado)

As opiniões emitidas e informações apresentadas são de exclusiva responsabilidade do/a autor/a e não refletem necessariamente a posição ou opinião da Alesfe

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O Escândalo do Convite Fake

Por Petronio Portella Filho*

O Ministro Alexandre de Moraes divulgou o print do e-mail que teria sido recebido por Eduardo Bolsonaro com o “convite” a seu pai para a posse de Donald Trump, que irá se realizar em 20 de janeiro. O advogado do Mito anexou tal “convite” a um requerimento ao Supremo pedindo a devolução do passaporte do ex-presidente para a viagem.

Algumas observações sobre o “convite”:

1) o nome do futuro presidente e vice estão incompletos, só Trump e Vance. Quando morei nos EUA, notei que todos lá se apresentam em eventos sociais com nome e sobrenome, exceto garçonetes. O autor do convite tratou o presidente-eleito e o vice como garçonetes.

2) o nome do “convidado de honra” está incompleto e incorreto. Ele se chama Jair Messias Bolsonaro, não “Presidente Bolsonaro”.

3) o convite faculta ao homenageado levar mais uma pessoa de sua escolha, um convidado extra cujo nome sequer foi mencionado. A segurança da Casa Branca autorizaria um político brasileiro a levar um convidado surpresa na posse de um presidente que sofreu atentado quatro meses atrás?

4) info@t47inaugural.com, o e-mail do remetente, não tem gov no nome, logo não é do governo americano. Trata-se quando muito de um site de informações
que distribui convites simbólicos para eventos abertos ao público.

5) se o convite foi uma deferência especial a Jair Bolsonaro, como afirma o filho, ele deveria ter sido entregue, impresso, pela embaixada dos EUA no endereço do homenageado, ou no gabinete do deputado Bolsonaro, que fica a 5 minutos da embaixada.

6) o texto do convite é sucinto, apenas seis linhas, e contém várias lacunas. Não há referência a nenhum horário, local, documentos, ritual de apresentação, ou o nome de algum organizador ou membro do cerimonial.

7) enfim, o “convite oficial” tem redação e formatação de nível ginasial e não contém nenhuma assinatura ou carimbo. Ele é escandalosamente apócrifo.

Das duas uma. Ou o convite é fake ou a Casa Branca virou a Casa da Mãe Joana.

Acredito na primeira hipótese. Tudo leva a crer que o pedido de liberação do passaporte, baseado num convite pessoal inexistente, era parte de um plano de fuga para o exterior. Podem ter tentado enganar o Supremo Tribunal Federal com uma falsificação grosseira. Isso não deveria ser investigado pela Polícia Federal?

Causa perplexidade que órgãos da grande imprensa brasileira, diante de falsificação tão escandalosa, tenham noticiado o evento, não com indignação, mas aparentando falsa neutralidade. Na verdade, vários jornais e sites de notícias concederam amplo espaço para que o deputado federal Eduardo Bolsonaro espalhe mentiras para os leitores e ameaças para o Ministro Alexandre de Moraes.

*Petronio Portella Filho é Consultor Legislativo do Senado Federal (aposentado)

As opiniões emitidas e informações apresentadas são de exclusiva responsabilidade do/a autor/a e não refletem necessariamente a posição ou opinião da Alesfe

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O “Descontrole Fiscal” de Lula

Por Petronio Portella Filho*

O governo Lula cumpriu a meta fiscal de 2024. No ano passado, 2023, a meta fiscal também foi cumprida.

O Brasil está se tornando mais austero? Sem dúvida. O déficit primário diminuiu de 138 bilhões em 2023 (1,3% do PIB) para 10 a 15 bilhões (0,1% do PIB) em 2024. O resultado de 2024 é uma estimativa preliminar. O resultado de 2023 desconsidera o pagamento dos precatórios de Bolsonaro, conforme acordado com o Supremo.

Michel Temer obteve Déficit Primário médio de 2,0% do PIB. Jair Bolsonaro, durante os três primeiros anos, teve Déficit Primário médio de 3,9% do PIB. No seu 4º ano, Bolsonaro, deu um show de irresponsabilidade fiscal. Expandiu gastos de forma ilegal para comprar a reeleição, depois fez pedaladas fiscais nos precatórios, na Previdência, nos benefícios sociais e nos governadores. Obteve Superávit Primário de 54 bilhões fazendo pedaladas de 200 bilhões.

Lula está sendo o mais austero Presidente do Brasil desde o fim da ditadura. Manteve o superávit primário médio de 2,2% do PIB em seus dois primeiros mandatos e deve praticamente zerar o Déficit Primário em 2024. No entanto, a capa da edição desta semana da Veja diz que Galípolo assume o Banco Central tendo que “enfrentar uma das mais agudas crises fiscais do país neste século”.

A revista Veja espalha desinformação para exigir aumento de uma austeridade que já é atípica e excessiva. Todos os jornais de grande circulação adotam a mesma linha editorial. Alardeiam um descontrole fiscal que não existe.

O episódio da capa da Veja mostra que Lula segue sendo perseguido pela mídia apesar de se esforçar em excesso para atender às exigências do lobby da Faria Lima. Está sendo um esforço em vão. Pesquisa Genial/Quaest de 4 de dezembro mostrou que 96% dos “analistas” da Faria Lima discordam da politica econômica de Lula. Pesquisa anterior mostrou que 82% deles votaram em Bolsonaro.

Lula e Haddad tentam inutilmente agradar opositores que perderam a eleição e não aceitaram a derrota. Eles me fazem lembrar a advertência de Churchill: “o apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”.

Esclareço que sou crítico da austeridade neoliberal exigida pela Faria Lima e pela mídia. Ela sequer merece ser chamada de austeridade. É um conjunto de políticas econômicas que travam o crescimento econômico e, paradoxalmente, pioram as contas públicas. Tal “austeridade” tampouco é socialmente justa, pois corta gastos fiscais que beneficiam quem mais precisa para pagar juros a quem menos precisa.

Para mais detalhes sobre o fracasso macroeconômico e a falsa neutralidade técnica das políticas de austeridade, recomendo “Austeridade, uma Ideia Perigosa”, de Mark Blyth. Publiquei resenha do livro na minha coluna da Alesfe e no Jornal GGN.

*Petronio Portella Filho é Consultor Legislativo do Senado Federal (aposentado)

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O Porre de Felicidade

Por Petronio Portella Filho*

No dia 30 de outubro, quando o Botafogo se classificou para a final da Libertadores, comemorei muito. Mas, ao final da noite, senti a volta de dois velhos conhecidos, a ansiedade e o pessimismo:

“Deus do céu. A final da Libertadores vai ser em 30 de novembro, daqui a 31 dias. Como é que eu vou conseguir esperar tanto tempo? E o Botafogo tem contra si o favoritismo. Meu time só vence decisões quando entra como azarão.”

Fui socorrido por outro defeito botafoguense, a superstição. Pensei algo que eu não tinha lido ou ouvido de nenhum jornalista profissional ou torcedor:

“Vem cá, o último título sul-americano do Botafogo foi na Conmebol de 1993. Naquele torneio enfrentamos, na semifinal e final, Atlético-MG e Peñarol. Por incrível coincidência, na Libertadores de 2024, os adversários da semifinal e final são os mesmos de 1993, com ordem invertida.

Papai do Céu aparentemente não gosta do Botafogo. Mas não acredito em coincidências. Desta vez o Todo-Poderoso mandou um sinal de que o Fogão vai ser campeão. Quaisquer que sejam as heresias e sacrilégios que cometemos no passado, fomos perdoados.

Toda superstição é ridícula, assim como todo fanatismo. No meu trabalho de economista, me esforço para ser científico, racional e não aderir à manada de místicos que idolatram o Mercado. Aí vem o Botafogo e estraga tudo. Ele me faz aderir a uma manada de loucos. E sou pior que a média. Outro dia um colega consultor disse que, quando o Botafogo entra na discussão, minha inteligência desaparece. O colega em questão não é flamenguista, é botafoguense. Ou seja, meu caso é grave.

Pois bem, lá estava eu, no 30 de outubro, ansioso por um jogo que iria se realizar no longínquo 30 de novembro. No dia seguinte, iniciei a lenta e dolorosa contagem regressiva. Faltam 30 dias, 29, 28…

Na semana do jogo, levantei da cama com frio na barriga todos os dias. No dia do jogo, estava tão tenso que pensei em tomar uma jarra de café para justificar o estado de superaquecimento em que já me encontrava.

Não tomei nada, não ia me fazer bem. Eu preferia tomar um calmante, mas não tinha nenhum em casa. Fiquei irritado comigo. “Sou um idiota. Tive 31 dias para me preparar e, sendo cardiopata, não pedi calmante a nenhum médico.”

Foi quando me lembrei de um estratagema mental que usava quando era criança e entrava no consultório do dentista. Eu mentalizava a paz que sentiria 1 hora no futuro, quando saísse daquela sala de torturas.

No 30 de novembro, entrei na sala de tv com a seguinte atitude mental. “Às 19 horas, o teste de resistência cardíaca estará terminado. O tempo é meu amigo. Eu consigo suportar a derrota. O que eu não consigo mais suportar é o suspense.”

Completamente pilhado, comecei a assistir ao jogo. Logo vi que eu não era o único pilhado. Aos 30 segundos de jogo, um jogador do Botafogo chutou a cabeça do adversário e foi expulso. Foi a expulsão mais rápida da história da Libertadores. Meu time começou bem, quebrando um recorde.

O Botafogo ia ter que jogar com um a menos contra um adversário que, nos últimos quatro jogos da Libertadores, marcou 5 gols e tomou 1. Jogamos na retranca, o que curiosamente é melhor para o Botafogo. Marcamos dois gols no final do 1º tempo. Pensei que poderia relaxar no 2º tempo. Ledo engano! No 1º minuto tomamos gol de cabeça de um… baixinho, em cobrança de escanteio. Tem coisa que só acontece com o Botafogo.

O Atlético jogou muito no 2º tempo, que foi tão tenso como o 1º. O 3º gol do Botafogo só surgiu no último lance do último minuto da prorrogação. Quebrou-se outro tabu, em vez de tomar gol no último minuto, o Botafogo marcou. Quando terminou o jogo, eu estava eufórico e pensei em beber algo para comemorar.

Aí descobri que eu já estava de porre. Eu tinha tomado um porre de felicidade. Tomo duas únicas drogas estimulantes, o café para me animar e o álcool para relaxar. Naquele dia mágico fiquei excitadíssimo sem cafeína, depois relaxadíssimo sem álcool.

Mais que relaxado, me senti em estado de graça, no paraíso. Por pouco não vivenciei a súbita iluminação de Buda e me transformei num santo.

Iniciei a comemoração do título botando no Spotify o samba enredo de 1989 da União da Ilha, Festa Profana:

“Eu vou tomar um porre de felicidade, Vou sacudir, eu vou zoar toda a cidade.”

*Petronio Portella Filho é Consultor Legislativo do Senado Federal (aposentado)

Crédito da imagem: Mário Alberto (O Globo)

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Trump seria muito pior que Biden?

Por Petronio Portella Filho*

Internamente, sim. Muito pior. Trump vai governar para os poderosos, prejudicar os pobres e tratar aos pontapés os imigrantes latinos otários que votaram nele. Vai cortar gastos sociais para diminuir os impostos. Vai piorar a concentração de renda dos EUA (que já é padrão Terceiro Mundo). Vai tentar destruir a democracia americana, que, segundo o ranking da Economist, já é “Imperfeita” e está na posição 29.

Mas, externamente, Trump não seria tão pior. Ele seria talvez pior que Kamala Harris, mas provavelmente melhor do que o atual presidente. Joe Biden é um defensor fanático da hegemonia americana. Ele vive num mundo unipolar.

Biden apoia e financia o genocídio de Gaza, tentou expandir a OTAN até a Ucrânia, provocou, de forma imprudente, a China, se aliando a Taiwan e espalhando bases militares pelos países vizinhos. Para mim Biden é o Apocalipse Joe. Trump, em seu primeiro mandato, foi muito menos beligerante que Biden.

E que grande diferença Trump faria para o Brasil? Bem, eu tenho uma imagem dele diferente da dos fãs bolsonaristas.

Trump não dá a mínima para bajuladores, especialmente os latino-americanos. É inescrupuloso e autoritário, porém pragmático. Trump é um típico magnata dos negócios. Não levou Bolsonaro a sério nem quando era presidente. Ele vai salvar Jair Bolsonaro da cadeia? Nos sonhos dos bolsominions.

Joe Biden era tão melhor do que Trump aqui na América Latina? O Apocalipse Joe apoiou o golpe da extrema direita no Peru, manteve as sanções que asfixiam Cuba e Venezuela, tentou derrubar Maduro, tentou desestabilizar os governos esquerdistas do México, Colômbia e Nicarágua. Se Biden interferiu menos que Trump-1, a diferença é imperceptível.

Todos os extremistas trumpistas da América Latina foram apoiados sem ressalvas por Biden. O protoditador Milei foi recebido de braços abertos. Aqui no Brasil, a embaixada americana tomou o lado do trumpista Elon Musk quando ele anunciou que ia desrespeitar decisão do Supremo.

Biden foi contra o golpe de Bolsonaro sim, mas por vingança. O Mito o acusou de fraude eleitoral e demorou 29 dias para reconhecer sua vitória. O homem mais poderoso do mundo não podia perdoar tal insubordinação no seu backyard (quintal).

Os dois golpes de Estado que o Brasil sofreu durante minha vida tiveram a cumplicidade de presidentes americanos democratas, Lyndon Johnson em 1964 e Barack Obama em 2016.

*Petronio Portella Filho é Consultor Legislativo do Senado Federal (aposentado)

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