Quando observada por uma ótica distanciada, a história se atém a contar detalhes factuais durante determinado período. Quase sempre a partir de uma perspectiva universal dos acontecimentos e seus impactos na humanidade.
Não foi essa, no entanto, a abordagem escolhida pelo consultor legislativo do Senado Federal aposentado, Stelson Ponce de Azevedo, para abordar a história do Brasil e do mundo – da segunda década do século XX ao ano de 2019, na publicação “Arrastado pela História”, que estará lançando nos próximos dias.
Para fazê-lo, Ponce optou por mergulhar no universo particular da família Moraes, explorando a capacidade interpretativa de quem foi submetido aos afetos do período e moldou suas interpretações no ‘calor da vivência’.
De acordo com o autor, o protagonista da narrativa – Pedro Moraes, pode ou não ser um personagem fictício, mas que o conhecimento deste detalhe está longe de representar importância central na obra.
“O leitor poderia pensar que seja uma obra biográfica. Essa não foi a intenção. A vida de Pedro, por si só, não justificaria o interesse por uma obra dessa natureza”, afirmou Ponce – complementando na sequência. “A obra quer, fazendo uso da vivência de Pedro, mostrar e por vezes analisar, com a velocidade de um filme em câmara rápida, a evolução e os diferenciais de culturas, costumes, ideologias, paixões, conflitos, motivações e valores sociais”.
Com o objetivo de trazer mais detalhes e compreender suas intenções e inspirações para o formato narrativo inovador, a equipe de comunicação da Alesfe bateu um papo com o autor.
Confira abaixo:
Alesfe: Gostaria que você nos contasse como foi o processo de criação do livro que, de maneira bastante singular, se ancora em acontecimentos reais século passado, mas o faz a partir da perspectiva de um personagem singular e não de uma ‘narrativa universal e oficiosa’ dos acontecimentos.
Stelson Ponce: Primeiro, devo dizer que Pedro e eu fomos testemunhas do mesmo período histórico e, por isso, fiquei curioso em saber como ele o tinha percebido e vivido. Como digo em minha apresentação, considerei Pedro um observador. “A forma da abordagem, apresentando a vida do personagem em paralelo com a História, permitirá uma percepção mais clara da evolução e do ritmo históricos”. Quanto a não fazer “partir da perspectiva de um personagem singular e não de uma ‘narrativa universal e oficiosa’ dos acontecimentos, foi justamente para fugir das paixões e ideologias envolvidas na “narrativa universal e oficiosa”. Se assim não o fizesse, não estaria trazendo nada de novo.
Alesfe: Você acredita que ao ser contada a partir da visão e das vivências particulares de um personagem, você conseguiu ressaltar de maneira mais viva o impacto dos acontecimentos do século no cotidiano social e na forma das pessoas se posicionar diante do mundo? Isso fez parte da sua intenção na hora de escrever a obra?
Stelson Ponce: Sim. Isso fez parte de minha intenção. E mais: julguei ser interessante a abordagem, para que os possíveis leitores, particularmente aqueles que não viveram todo esse encadeamento histórico de oitenta anos, julgassem e analisassem erros e acertos em suas percepções dos fatos.
Alesfe: Algum autor ou obra te inspirou, ou motivou de alguma forma, a adotar este modelo de narrativa?
Stelson Ponce: Não. Não tenho conhecimento, ao menos não me lembro de ter lido outra obra com essa abordagem.
Alesfe: Em uma pergunta de cunho mais pessoal, se me permite, gostaria de saber quando e como o ‘fazer literário’ entrou na sua trajetória. Isso já estava presente nos tempos em que você atuava no Senado?
Stelson Ponce: Mesmo antes do Senado. Como servidor público, durante muito tempo, e depois no Senado, assessorei autoridades com trabalhos escritos em que a objetividade e a capacidade de convencimento eram fundamentais. Além disso, ao longo de minha carreira, participei em concursos literários obtendo prêmios.
Alesfe: Quero te propor um exercício curioso: se colocar na posição de ‘observador e vivenciador da história’, como Pedro – seu personagem, e nos narrar brevemente as mudanças que você observou na política institucional do país durante seus anos de Senado e como ela impactou a maneira com que a casa passou a operar em cada uma dessas etapas.
Stelson Ponce: Desculpe-me, mas responder a essa pergunta obrigar-me-ia a escrever outra obra. Mas, considerando que Pedro e eu vivemos a mesma fase histórica do Mundo, e que por isso não é de estranhar que tenhamos muita semelhança no modo de pensar, concordo basicamente com sua forma de ver os fatos passados e presentes.